Qual pode ser o impacto do Brexit na inovação
Em 24 de junho de 2016 anunciou-se o resultado de um importante referendo no Reino Unido, uma votação apertada, em que 51,9% dos ingleses deixaram claro seu desejo de que o país não faça mais parte da União Europeia (UE). Desde então, questiona-se o que vai acontecer no Reino Unido a partir de agora. Da vida dos britânicos a liga inglesa de futebol e a renúncia do primeiro-ministro, David Cameron, algumas mudanças podem ocorrer nos próximos meses. O clamor popular ainda precisa ser aprovado no parlamento, porém já se especula as mudanças que o Brexit (British Exit) pode trazer para áreas como a ciência e a tecnologia.
Se o país está dividido em relação ao assunto, afinal, 48,1% votaram por permanecer na União Europeia, a comunidade científica chega perto de um consenso, conforme mostra o MIT Techonology Review. Pesquisas publicadas pela revista afirmam que pelo menos 83% dos cientistas britânicos eram contra o Brexit.
Em março, todos os integrantes da Royal Society da Universidade de Cambridge chamaram a iniciativa de um “desastre para a ciência britânica“, principalmente por que vai impedir que jovens cientistas migrem ao país. Outro relato feito pela House of Lords, em abril, afirmando que “a maioria da comunidade científica britânica se opõe ao Brexit”.
Um dos motivos da preocupação dos cientistas é do financiamento. A União Europeia financia muitas pesquisas de ciência e tecnologia para os países membros, com 74 bilhões de euros investidos de 2014 até 2020 e agora o que resta é contador de dias até que seja colocado em prática. Os laboratórios britânicos dependem de fundos públicos para as pesquisas. Um corte nesse financiamento depois do Brexit pode prejudicar todos os campos da ciência.
“Não é só financiar”, diz Mike Galsworthy, um estudioso na área de saúde na University College London, que lançou uma campanha nas redes sociais chamada “Cientistas em apoio a União Europeia“. Segundo Mike, a União Europeia também permite uma integração entre os países europeus, o que ajuda na colaboração de pesquisas entre nações do bloco.
O argumento de quem apoia o Brexit
O argumento de quem apoia o Brexit é que o Reino Unido pode continuar em pesquisas da União Europeia, mesmo fora do bloco, como fazem países como Noruega e Tunísia. Mas, segundo especialistas, isso não funcionaria da mesma maneira. A Suíça, por exemplo, não está na União Europeia, mas em 2004 o país permitiu o livro trânsito de pessoas para países da UE, apontando como um dos motivos para a medida a qualificação dos programas de pesquisa. Em 2014, com a mesma pressão anti-imigração que forçou a votação do Brexit, 50,3% dos suíços votaram contra e anularam a medida.
O impacto na ciência foi duro por lá: os estudantes suíços tiveram que sair de programas de pesquisas, a maioria utilizado por jovens cientistas. Os laboratórios da Suíça são participantes ativos na ciência da União Europeia, então foi feito um acordo para dar uma associação temporária aos suíços, com acesso a alguns programas para pesquisa básica, mas isso acaba em fevereiro de 2017.
“Não há razão para pensar que o Reino Unido vai se dar melhor“, diz Athene Donald, do Conselho Europeu de Pesquisa. Para conseguir um acordo e acesso aos fundos de pesquisa da União Europeia, o Reino Unido teria que concordar no livre trânsito de pessoas para outros países do bloco, o que os defensores do Brexit mais se opõe.
O MIT Technology Review também lembra que, para países fora da UE, a ciência custa mais caro, já que países associados pagam para utilizar os recursos do fundo. Karlheinz Meier, da Universidade de Heidelberg, na Alemanha, comanda a iniciativa Human Brain Project, que também tem sede em Manchester, na Inglaterra. Ela espera que os britânicos deem um jeito de continuar participando:
“Eles não vão destruir a colaboração deles com a Europa. Seria uma loucura”.
Empresas de tecnologia britânicas, como a Rolls Royce, mostraram-se contra o Brexit, assim como a Coadec, instituição que reúne startups digitais do Reino Unido. Além de grandes companhias, pesquisas importantes seriam prejudicadas e iniciativas teriam que ser discutidas. Por exemplo, o reator JET, financiado pela UE, fica na Inglaterra e já deu aos físicos e engenheiros britânicos e de outros países acesso a uma tecnologia de ponta.
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